Quadrinhos na educação: recurso de linguagem

Durante algum tempo as histórias em quadrinhos foram consideradas inadequadas à aprendizagem escolar pela pobreza da linguagem e por, de certo modo, viciarem pela facilidade da leitura, afastando o leitor da literatura considerada de melhor qualidade. Mas será que as HQs, como são conhecidas as histórias em quadrinhos, não têm nada a contribuir para o ensino da linguagem? É isso que veremos nesse artigo.

Das pinturas rupestres às histórias em quadrinhos

Desde os primeiros tempos, os homens procuram, por meio de símbolos, expressar suas ideias, transmitir seu pensamento. Os desenhos e as pinturas nas cavernas já demonstravam essa necessidade.

Foi por meio das pinturas rupestres que ficamos sabendo como viviam na época das cavernas. Os desenhos registravam histórias sobre a vida de então, como caçadas e outros ritos sociais. Essas pinturas rupestres são consideradas as precursoras das histórias em quadrinhos.

Das paredes das cavernas, as pinturas rupestres deram origem a diversas formas de manifestação artísticas, atendendo a uma necessidade humana de representar elementos visuais na contação de histórias – fossem verídicas ou de ficção.

O ensino da linguagem na escola

Trazendo a questão para o âmbito educacional, observa-se, numa fase em que não se tinham claras as noções de infância e de adolescência, uma preocupação inicial em utilizar como material didático as obras clássicas da literatura.

Pouco importava se o aluno tinha ou não condições psíquicas para compreendê-las. Ele deveria tomá-las como modelos e até aprendê-las de cor. Embora esse método tivesse contribuído para o enriquecimento do vocabulário e da linguagem verbal, dificultava a manifestação da individualidade e da originalidade.

Com o passar dos anos e o aumento do número de letrados, a linguagem coloquial foi sendo mais aceita, assim como a maior liberdade nos estilos literários. Os quadrinhos, no entanto, por terem um espaço diminuto, não permitiam o uso de muitos adjetivos, locuções adverbiais e digressões descritivas. Sua linguagem era constituída de frases simples e objetivas e a comunicação, preferivelmente, feita pela imagem. Eis por que as HQs – ou gibis, como também são conhecidas –

eram consideradas inadequadas ao ensino da linguagem.

Quadrinhos e literatura

É preciso estar atento ao fato de que as linguagens são dinâmicas e estão em constante transformação. As mudanças tecnológicas, o aumento do fluxo de informações e a rapidez com que elas se propagam exigem uma nova postura na forma de se posicionarem frente aos desafios diários.

Cabe à escola fornecer os meios necessários para que os alunos se apropriem das especificidades de cada linguagem, sem perder a visão do todo no qual elas estão inseridas. Hoje em dia, por exemplo, as histórias em quadrinhos já são amplamente utilizadas como meio de expressão no âmbito escolar.

Histórias em quadrinhos, por provocarem um grande fascínio entre as crianças, são um recurso eficiente para trabalhar temas complexos. Vida, morte, alegria, tristeza, medo, insegurança, timidez: temas difíceis que encontram nas HQs um boa forma de trazer o assunto para a discussão em sala de aula. No caso dos adolescentes, os quadrinhos são uma boa maneira de introduzir a discussão de questões próprias da idade. Isso sem falar nos quadrinhos que abordam conteúdos próprios das disciplinas escolares e que podem, portanto, serem usados como leitura complementar.

Não há por que condenar esse meio de comunicação, a não ser pelo excesso de sua utilização em detrimento de outros tipos de textos mais elaborados. Embora todos os padrões linguísticos sejam válidos, quanto maior e mais diversificado o vocabulário e o conhecimento da linguagem pelo aluno, melhor pode ele conhecer o pensamento em geral.

O respeito à potencialidade do aluno exige que a escola lhe ofereça o conhecimento mais amplo possível e lhe dê a oportunidade de compreender e se comunicar de maneiras mais ricas e elaboradas – como, por exemplo, o texto literário. Há que se observar, no entanto, que as obras da literatura apresentadas ao aluno sejam adequadas a ele – seu contexto e sua faixa etária – não perdendo de vista a preocupação com a diversificação dos estilos e das diferentes modalidades da linguagem verbal.

Múltiplas linguagens na sala de aula

O ensino da linguagem em sala de aula precisa levar em conta o processo de desenvolvimento psicológico, intelectual e emocional do aluno. É objetivo da literatura em geral, como expressão artística, aprimorar a comunicação entre os indivíduos permitindo, pela riqueza do vocabulário, o conhecimento das particularidades e peculiaridades de suas ideias e sentimentos.

Há que se buscar desenvolver atividades em sala de aula que, ao mesmo tempo que atendam a esse objetivo, também despertem no aluno o interesse pela linguagem e suas possibilidades. Por isso é preciso ampliar as opções de recursos a serem utilizados.

Textos de formatos diversos são importantes para o aprendizado do uso correto da linguagem nos diferentes meios e situações. Notícias de jornal, e-mails, artigos, crônicas, textos literários e quadrinhos compõem um eficiente mosaico para a aprendizagem. Melhor ainda se houver uma intersecção entre os diferentes tipos de linguagem, propiciando um entendimento mais amplo de suas potencialidades.

Nossa experiência no Colégio com o uso das múltiplas linguagens em sala de aula tem resultado na formação de alunos preparados para dominarem os diferentes recursos e espaços, tanto sociais quanto profissionais. Desde a educação infantil, passando pelo ensino fundamental até o ensino médio, o uso de diferentes suportes linguísticos permite um aprendizado mais dinâmico e interativo. Há inúmeras possibilidades de se utilizar os quadrinhos em sala de aula, sempre lembrando que ele é uma linguagem a mais a ser trabalhada e não substitui as demais.